segunda-feira, 26 de maio de 2008

/berro & /morte


Todos os dias acordo bem cedo, ainda cambaleando vou até o espelho, me olho, encaro, me estranho e berro. Começo a berrar... a berrar de medo, de fome, angústia e desejo, como se estivesse em um rodeio ou em um terreiro de candomblé... berrando muito. Depois paro e faço de conta que nada está acontecendo, ligo o chuveiro e começo a tomar banho. Mas de-repente, assustando o próprio chuveiro eu volto a berrar, a berrar absurdamente alto, mas ninguém ouve. E todos acreditam.Não sei porque acreditam se tudo isso é mentira. É mentira porque eu não vou até o espelho da minha casa, até porque não tenho espelho, e nem casa. Não ligo o chuveiro porque nem banheiro eu tenho. Não berro porque sou mudo... nunca acordo e ninguém me ouve porque eu já morri.


Morri de desgosto, morri por dentro. Não me ouvem porque são todos surdos, não me enxergam porque são cegos... essa sociedade cega e surda que te deixa mudo é resultado do que você é sendo o que você sempre foi, sem oportunidade de mostrar quem você quer ser, abafando seu valor e mais uma vez ficando cega, surda e muda aos mais diversos fatos que nos rodeiam.
R.Rocha

Um comentário:

Cléw disse...

que profundo melamor! olha bee, se teu pai não fala com vc alguma vc deve ter aprontado! tenta ver direitinho com ele, sentar e converssar, o dialogo é tudo bee!

se não resolver, certifique-se de que ele ainda vive! hahaha! loucura a minha!