domingo, 16 de novembro de 2008

Blindness

Dentro de nós há uma coisa que não tem nome, essa coisa é o que somos

Ontem fui ao cinema assistir "Ensaio sobre a cegueira", filme de Fernando Meirelles baseado no livro de José Saramago, que ganhou o Nobel de Literatura. Fui com toda expectativa e não me decepcionei, desde a trilha sonora ao roteiro do filme. Julianne Moore e Alice Braga maravilhosas!

Uma cegueira epidêmica afeta os habitantes de uma cidade contemporânea e sem nome, levando a sociedade à beira do colapso. Me lembrou "Incidente em Antares", do Érico Veríssimo, onde um acontecimento "surreal" leva a sociedade a mostrar a sua podre identidade. O filme não é sobre cegos e nem sobre cegueira, é sobre humanos. É ensaio no sentido de equívoco mesmo. A perda da visão é uma metáfora para a perda da coisa que mais nos diferencia dos animais: a moral. Sendo assim, não é preciso uma explicação para o porquê a população ficou cega, a intenção não é científica e nem de apelo social.

O homem chega em seu limite e volta a ser o que sempre foi, um animal primitivo, que age por instinto, não enxergando sequer uma lei, extravassando e jogando tudo pro ar.

É muito dificil para um cineasta passar a sensação de estar cego, já que o cinema praticamente se resume a imagem. Foi muito bem planejado. Até José Saramago, que escreveu o livro, chorou após assistir o filme e disse que estava com a mesma sensação de quando terminou de escrever. Se ele diz...

Durante a sessão algumas músicas chamaram minha atenção. Cheguei em casa e fui ouvir a trilha: maior parte das músicas é do grupo mineiro Uakti, um grupo de percussionistas que mostram a diversidade de instrumentos inusitados, seus instrumentos originais são construídos/adaptados com tubos de PVC, sinos de madeira, caldeirões, ... além da marimba de vidro e o aqualung que usa o som da água como matéria sonora... Também usam instrumentos convencionais: flauta, violões e violoncelos. É experimentalismo em música erudita. Uma coisa meio carimbó e miniminimi low, mas é bom.

Quando terminou o filme, tinha uma música do Bach que estava me lembrando a trilha sonora da novela Cabocla, a música "Céu de Santo Amaro", composta por Flávio Venturini e que era tema da Zuca e do primo Luís. Essa música é lindissima, uma anjo ritmado. Fui pesquisar e encontrei que Flávio Venturini realmente estava ouvindo Sinfonia da Cantata, e largo do concerto pra oboé BWV 1056, após fazer um show em Santo Amaro e ficou emocionado com tamanha beleza do céu estrelado da cidade e compôs essa música na hora, toda na melodia de Bach. E ficou maravilhosa! É incrível como certas pessoas conseguem expressar sentimentos tão belos, seja Venturini na poesia ou Bach sem dizer uma palavra...

É de uma sensibilidade incrível:



Eu não vou esquecer sua voz

E eu não vou esquecer seu rosto