domingo, 21 de junho de 2009

Atchim


Rápido, rápido gente! Corram. Fechem tudo. Tranquem as portas, lacrem as paredes, cadeiem os portões, guardem as crianças, se escondam, vão pra baixo da cama, subam nas paredes, não tenham contato com ninguém, não falem ao telefone, não entrem no Orkut, não assitam o filme do Babe – o porquinho, porque a gripe suína ta aí gente. Aí mesmo! Bem aí, ao seu lado!

Primeira suspeita aqui em Balneário Camboriú! Atchim. Calma gente, foi só um espirro. Atchim de novo. To com um resfriado. Como saber diferenciar a gripe suína de uma gripe normal em uma época onde quase todo mundo ta ficando gripado? Os sintomas são diferentes, mas sei lá gente, eu teria vergonha de ir ao Posto e chegar dizendo...

- Oi enfermeira
- Oi lindo, em que posso ajuda-lo? (sim, ela me chamaria de lindo porque como eu to supondo isso aqui, vou inventar o que eu quiser).
- Bom, é que eu to me sentindo meio mal, meio indisposto, com dores na costas, acho que to resfriado...

Ela deveria ser direta. Melhor uma enfermeira efusiva que garante a doença e depois descobrimos que não era nada, do que uma que diz que era dor de garganta e duas semanas depois você descobre um câncer na tireóide. Seria a melhor coisa do mundo se ela já fosse direto ao ponto e fizesse não restar dúvidas.

- Meu Deus! Meu Deus! Corra! O senhor só pode estar com a gripe suína! Não tem erro. Corra! Corra enquanto é tempo! Vá para bem longe e se esconda! Pega esse dinheiro aqui e se manda porque eles já estão atrás de você.

Imagina, não seria ótimo? Tudo resolvido, o drama de pensar “será que to participando da pandemia” teria acabado e ainda tinha a esperança de uma noticia boa, por se tratar de uma enfermeira efusiva, que chegasse falando “me enganei, tu não ta infectado, era só uma gripe normal. A porca aqui sou eu que sempre me precipito”.

Mas não. Nosso Sistema Unitário de Saúde não é assim. Nunca foi e tudo indica que nunca vai ser. Ela seria fria e diria:

- Eu não tenho idéia do que o senhor pode ter. Peço que se dirija até a recepção e marque uma consulta com o Dr. Gripe para realizar alguns exames. Acredito que temos vagas para metade do próximo mês. Dezesseis de julho, às seis e quinze da manhã está bom para o senhor?

- Não, é que... – nessa hora eu criaria coragem pra falar que estava suspeitando da gripe da suína, mas a infeliz iria me interromper, claro.

- Não? Mas é o dia e horário mais próximo que eu tenho. Que pena, então estou cancelando...

- Não senhora, é.... – novamente ela interromperia.

- Não? Mas você não disse pra desmarcar?

- Não não, eu não disse pra desmarcar.

- Então vou remarcar sua consulta, para dia 16.. – agora ela seria interrompida por mim, porque meu nível de stress estaria aumentando.

- Não minha senhora, chega de palhaçada – partindo para ignorância – É que eu acho que não é uma gripe comum...

- Mas meu senhor, em nenhum momento eu disse que era gripe. Muito menos comum – a essa altura ela seria irônica – Deixei bem claro que não faço idéia do que o senhor tenha, por isso encaminhei para o Dr. Gripe, formado na Universidade de Resfriado do Sul com doutorado em baixa imunidade. – sim, ela seria debochada, porque funcionaria de Posto publico sempre trabalha mau humorada e disfarça debochando.

- Mas minha senhora, eu acho que a situação é mais grave que a senhora pensa. To suspeitando que fui contaminado pela gripe suína.

- O quê?

- Gripe suína!

- Hahahahahahahaha. Ei ei Regina, vem aqui escutar essa... – Regina é a faxineira – Ele diz que ta com a gripe suína, hahahahaaha, não é engraçado?

E a partir daí ela começaria a chamar todo mundo e contando, rindo, que eu acho que to com a gripe do porco. Debochando na minha cara. E a noticia começa a se espalhar pelo posto. Todo mundo começaria a apontar e rir pra mim. As pessoas começariam a imitar porcos, jogar bacons e espirrar de um jeito engraçado só pra me provocar. Tenho certeza!

Quanto a vitima de Balneário, realmente é verdade, uma suspeita de 37 anos. Ou seja crianças, cuidem-se, porque se ela pegou, você também pega (principio II da neurolinguistica).

Bom, quanto a mim vocês sabem né, posso estar morrendo, mas me nego a ir ao Posto e correr o risco de ser motivo de chacota... daí-me coragem, senhor!